Por Ramaputra das
Sacerdote, Empresário e Escritor.
Residente na Comunidade Nova Gokula.
Na Bhagavad Gita 2.14 krishna descreve o estado psicológico de uma pessoa que deseja equilíbrio na vida: “Ó filho de Kuntī, o aparecimento temporário da felicidade e da aflição, e o seu desaparecimento no devido tempo, são como o aparecimento e o desaparecimento das estações de inverno e verão. Eles surgem da percepção sensorial, ó descendente de Bharata, e precisa-se aprender a tolerá-los sem se perturbar”. Este espírito de renúncia ás circunstancias agradáveis ou desagradáveis são marcantes na ideologia das escolas espiritualistas do oriente que contrapõe as tendências ocidentais de busca da felicidade ignorando o sofrimento inerente deste mundo de dualidades mesmo no caminho espiritual. Por isso, Krishna diz que existem quatro tipos de pessoas que se aproximam da espiritualidade ou de Deus e podem ser devotos (Bg 7.16). “Ó melhor entre os Bhāratas, quatro classes de homens piedosos passam a Me prestar serviço devocional — o aflito, o que deseja riquezas, o inquisitivo e o que busca conhecer o Absoluto”. Estas pessoas aproximam-se da espiritualidade sob diferentes condições que devem ser consideradas estágios preliminares da devoção pura, porque em troca de devoção procuram satisfazer alguma aspiração. A devoção ou espiritualidade pura deve acontecer sem aspiração e sem desejo de lucro material. O Bhakti-rasāmṛta-sindhu (1.1.11) dá a seguinte definição da devoção pura: “É com atitude favorável e sem desejo de lucro ou ganho material alcançado através de atividades fruitivas ou especulação filosófica que se deve prestar serviço transcendental amoroso ao Supremo Senhor Kṛṣṇa. Isto se chama serviço devocional puro.” Dessas, a que procura por conhecimento sobre a Verdade Absoluta é especialmente querida por Krishna (Bg 7.17) “Destes, aquele que tem conhecimento pleno e está sempre ocupado em serviço devocional puro é o melhor. Pois Eu lhe sou muito querido, e ele é querido por Mim”. Esses devotos buscadores do conhecimento estão sempre conectados com Krishna: “Os pensamentos de Meus devotos puros residem em Mim, suas vidas são plenamente devotadas a Meu serviço, e eles obtêm grande satisfação e bem-aventurança sempre se iluminando uns aos outros e conversando sobre Mim”. Os devotos não são filosoficamente sentimentalistas ingênuos pois estão protegidos por Krishna com iluminação ou a luz do conhecimento. (Bg 10.11) “Para lhes mostrar misericórdia especial, Eu, residindo em seus corações, destruo com a luz brilhante do conhecimento a escuridão nascida da ignorância”. Naturalmente, um espiritualista ou devoto, deve ter sentimento. Sem sentimento ninguém pode chegar ao estágio de êxtase ou amor e devoção pura. Mas esse sentimento é transcendental. Não é um sentimento comum. Quando a religião, ou a fé, é destituída de filosofia e lógica, então é sentimento material. Segundo nosso mestre Srila Prabhupada filosofia e lógica sem compreensão de Deus é desperdício de tempo. Ambos devem ser combinados: religião e filosofia. Deve-se entender os princípios da religião ou espiritualidade com filosofia e lógica. Assim, um devoto munido de conhecimento aceita a posição de Krishna como Deus Supremo e está fixo na Bhakti Yoga em serviço devocional sincero para avançar na vida rumo a meta de voltar ao Supremo. Um devoto deseja ir ao planeta espiritual mais elevado, desconsiderando toda ilusão do mundo de dualidades. “Meu querido Arjuna, aquele que se ocupa em Meu serviço devocional puro, livre das contaminações das atividades fruitivas e da especulação mental, que trabalha para Mim e faz de Mim a meta suprema de sua vida, sendo amigo de todos os seres vivos — com certeza virá a Mim”. Bg.11.15 Recomendamos a leitura do capítulo 12 da Bhagavad Gita por conter instruções e descrições do caráter ou das qualidades transcendentais de um devoto puro onde destacamos o seguintes texto (Bg 12.13-19): “Aquele que não é invejoso, mas é um amigo bondoso para todas as entidades vivas, que não se considera proprietário e está livre do falso ego, que é equânime tanto na felicidade quanto na aflição, que é tolerante, sempre satisfeito, autocontrolado e ocupa-se em serviço devocional com determinação, tendo sua mente e inteligência fixas em Mim — semelhante devoto Me é muito querido”. O devoto puro jamais se perturba em circunstância alguma. Nem tem inveja de ninguém. Tampouco o devoto torna-se inimigo de seu inimigo; ele pensa: “Esta pessoa está agindo como meu inimigo devido às minhas próprias más ações passadas. Logo, é melhor sofrer do que reclamar”. Este tema é muito importante porque trata do aceitar as dificuldades na vida sem deixar-se afetar emocionalmente. No Śrīmad-Bhāgavatam (10.14.8), temos a fórmula para lidar com as questões do sofrer: “Sempre que está aflito ou passa dificuldades, o devoto sabe que o Senhor está tendo misericórdia dele. Ele pensa: “Devido às minhas más ações passadas, eu deveria sofrer muito, muito mais do que estou sofrendo agora. Logo, é pela misericórdia do Senhor Supremo que não estou recebendo todo o castigo que mereço. Pela misericórdia da Suprema Personalidade de Deus, minha punição é pequena”. Por isso, um devoto é sempre calmo, quieto e paciente, apesar de muitas condições aflitivas e é esse tipo de devoto que devemos almejar ser e buscar pela associação.
Om Tat Sat!!!
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